sexta-feira, 21 de março de 2014

Ex-diretor da Petrobras que está preso é considerado a “caixa-preta” da estatal




Por  Laryssa Borges e Silvio Navarro, na VEJA.com:
Preso na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa é considerado uma espécie de “caixa-preta” da estatal. Detido no Rio de Janeiro quando tentava destruir provas da chamada Operação Lava Jato, Costa construiu a carreira na Petrobras desde os anos 1970. Chegou à diretoria de Abastecimento da companhia em maio de 2004 pelas mãos do ex-presidente Lula. Na época, foi indicado pelo PP ao posto, ampliando sua influência política – já tinha respaldo de setores do PMDB e do grupo ligado ao deputado petista Cândido Vaccarezza (SP). “Ele era indicado do PP, mas depois virou [apadrinhado de] uma constelação de partidos”, diz um político ligado à estatal. Na campanha de 2010, doou 10.000 reais para o PT do Rio de Janeiro.
Costa tem informações sigilosas, por exemplo, sobre a operação que levou a empresa brasileira de petróleo a comprar 50% da refinaria de Pasadena, no Texas, e depois, por meio de uma cláusula contratual denominada Put Option, pagar pelas ações da belga Astra Oil. O negócio, consolidado sob a gestão do petista José Sergio Gabrielli à frente da estatal, custou mais de 1 bilhão de reais aos cofres da empresa.
Após anos ocupando cargos na estatal – superintendência de produção da Bacia de Campos, a gerência de exploração da Bacia de Santos e a gerência-geral da logística da Unidade de Negócios Gás Natural da Petrobras –, Costa decidiu montar há dois anos uma consultoria para as áreas de combustível, engenharia e infraestrutura e se tornou uma espécie de lobista do setor. A Costa Global Consultoria e Participações, com sede no Rio, aliou-se a outra empresa do ex-diretor da Petrobras, a REF Brasil, para atuar em um dos mais recentes projetos da companhia: a instalação de uma refinaria em Carmópolis, principal bacia petrolífera de Sergipe. O investimento previsto é de 120 milhões de reais, com receita operacional de 480 milhões de reais.
Nesta quinta-feira, foi preso na Operação Lava Jato da PF. Os policiais cumpriram seis mandados de busca e apreensão em casas e endereços de Costa no Rio de Janeiro. Segundo as investigações, ele ganhou um carro de presente do doleiro Alberto Youssef, pivô do esquema de lavagem de dinheiro que movimentou cerca de 10 bilhões de reais. Na casa do ex-diretor da Petrobras foram apreendidos 700.000 reais e 200.000 dólares em espécie.
Por Reinaldo Azevedo       

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato do PSDB à Presidência da República, afirmou que o governo federal precisa decidir qual versão, afinal de contas, é a oficial na lambança com a refinaria de Pasadena, no Texas — aquela sucata comprada dos belgas por US$ 1,180 bilhão e pela qual os vendedores haviam pagado míseros US$ 42,5 milhões. Sim, caros leitores, nem a presidente Dilma, que autorizou a compra era apenas a ministra Dilma, acha a operação defensável. Tanto é assim que, em nota oficial, afirmou que só concordou porque ignorava os termos do contrato. Vai mais longe: diz que, se soubesse, não teria aprovado.
Pois é… Acontece que, ao dar essa desculpa, a presidente faz o óbvio: admite, de forma não explícita, a irregularidade e joga uma sombra de suspeição sobre o governo Lula e sobre José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras. Este, aliás, que hoje é secretário do governo Jaques Wagner (outro conselheiro que disse “sim” à lambança), já andou afirmando a jornalistas que não aceita ser bode expiatório. Ele, na verdade, continua a defender a compra.
A Petrobras, diga-se, procurada pela imprensa, também havia decidido afirmar que tudo tinha sido regular e nos conformes. Dilma não gostou. Reuniu seus “universitários” para elaborar a tal versão do “eu não sabia”. Aí as coisas se enrolaram de vez: ela diz uma coisa, e a empresa, outra.
Como se sair dessa? Para defender que uma refinaria que valia US$ 42,5 milhões tenha sido comprada por US$ 1,18 bilhão — e sem que tenha refinado uma gota de óleo desde 2006, dando um prejuízo operacional permanente —, é preciso ter uma cara de pau gigantesca. Não que o governo Dilma não consiga. Essa gente faz coisa do arco da velha. É capaz até de contratar mão de obra escrava e chamar isso de redenção humanista. Ocorre que o governo está com receio da investigação conduzida pelo Ministério Público e pelo TCU. Como justificar? A aritmética elementar não deixa.
Pasadena é mais um capítulo do desastre que colheu a Petrobras na gestão lulista, sob o comando de José Sérgio Gabrielli. Nem durante a ditadura militar a empresa foi submetida a um comando que teve de arrogante o que teve incompetente e politiqueiro. Como esquecer que este senhor, em plena campanha eleitoral, em 2010, concedeu uma entrevista afirmando que FHC tentara privatizar a Petrobras, o que é uma mentira tão escandalosa como a compra da refinaria de Pasadena?
Não só isso! Quando jornalistas tentavam saber dados sobre a empresa, suas perguntas eram expostas num blog e submetidas ao ridículo, como se a imprensa, ao cumprir a sua missão, estivesse cometendo alguma impropriedade. Como esquecer que, no governo Lula e sob a gestão Gabrielli, com a anuência de Dilma, chegou-se a declarar a autossuficiência? Autossuficiência? O déficit da conta petróleo em 2013 foi de R$ 20 bilhões!!!
Mais: impôs-se a uma Petrobras alquebrada o peso do regime de partilha na exploração do pré-sal e se transformou a empresa na âncora de contenção da inflação, o que a conduziu à beira do abismo. A incrível compra da refinaria de Pasadena é só mais uma agressão ao bom senso, à prudência, à boa gestão e, obviamente, à moralidade.
Num país que respeita os acionistas, como os EUA, os gestores da Petrobras que levaram a empresa a uma crise inédita estariam, na melhor das hipóteses, sem emprego; na mais dura, na cadeia.
Por Reinaldo Azevedo


Executivos da Petrobras rebatem versão de Dilma e dizem que ela tinha como saber de tudo

Na Folha:
A presidente Dilma Rousseff e todos os demais membros do Conselho de Administração da Petrobras tinham à sua disposição o processo completo da proposta de compra da refinaria em Pasadena (EUA), segundo dois executivos da estatal ouvidos pela Folha. Na documentação integral constavam, segundo os relatos, cláusulas do contrato que a petista diz que, se fossem conhecidas à época, “seguramente não seriam aprovadas pelo conselho” da estatal. Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” trouxe ontem a informação de que Dilma, na época presidente do Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor da compra de 50% da refinaria em 2006, pelo valor total de US$ 360 milhões. Em resposta ao jornal, ela justificou que só apoiou a medida porque recebeu “informações incompletas” de um parecer “técnica e juridicamente falho”.
O episódio gerou mal-estar na Petrobras, tensão no Executivo e corrida no Congresso para a aprovação de uma CPI em pleno ano eleitoral para investigar o caso. A compra da refinaria é investigada pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público do Rio e pela Polícia Federal. A principal polêmica é o preço do negócio: o valor que a Petrobras pagou em 2006 à Astra Oil para a compra de 50% da refinaria é oito vezes maior do que a empresa belga havia pago, no ano anterior, pela unidade inteira. Além disso, a Petrobras ainda teve de gastar mais US$ 820,5 milhões no negócio, pois foi obrigada a comprar os outros 50% da refinaria. Isso porque a estatal e a Astra Oil se desentenderam e havia uma cláusula no contrato, chamada de “Put Option”, estabelecendo que, em caso de litígio entre sócios, um deveria comprar a parte do outro. Na nota divulgada por Dilma, a presidente afirma que o resumo executivo analisado na reunião do conselho não citava essa e outra cláusula em questão, que, se conhecidas, “seguramente não seriam aprovadas”.
Dois executivos da Petrobras ouvidos pela Folha afirmam que o parecer distribuído aos conselheiros não tratava especificamente das duas cláusulas porque se limitava a fazer uma defesa do negócio em si, considerado lucrativo em 2006 pelo governo e pela Petrobras.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

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